23/11/2023
É possível vivermos uma vida sem nos sentirmos tristes?
Começo a pequena reflexão que se dará nesse artigo primeiramente te convidando a refletir nesta pergunta acima.
Em uma análise realizada pela psicanalista Denir Camargo Freitas, demonstrou que nos últimos anos temos observado a presença de um certo dever em sermos felizes como nunca existiu antes.
Em geral, a autora explica que sentimos como se tivéssemos a obrigação de sermos felizes, ou pelo menos a obrigação de demostrar ao mundo que somos e estamos felizes o tempo inteiro, mesmo quando parece que tudo está dando errado. Aquele que não segue esse roteiro, no mínimo, acaba se sentido “um estranho” ou “fracassado”.
E a tristeza? Para onde foi?
Vemos que hoje a tristeza é evitada, aviltada e negada a todo custo. Freitas (2018), sobre isso, afirma:
“Atualmente, a regra é a de “pensar positivo”, ou melhor, ter a felicidade como o horizonte de todos os acontecimentos da vida. A subjetividade é caracterizada pelo hedonismo, isto é, o dever de ter prazer e evitar a dor, o sofrimento”.
Ninguém gosta ou deseja ficar triste. Porém, conforme afirma a autora, a questão é que as pessoas não têm mais o direito de sofrer, ou de mostrar o sofrimento, pois correm o risco de serem vistas como fracassadas.
Todo ser humano tem momentos infelizes e de tristeza. E ela pode vim por diversos motivos, acompanhada ou não de outros sentimentos, como a raiva e o medo. E pode, ainda, surgir sem um motivo aparente.
Mas, ao contrário do que se pensa, ficar triste sem motivo, em verdade, há um motivo, entretanto, apenas não é tão claro ou percebido pela pessoa. Alguns processos inconscientes nos levam a experimentar certas emoções: uma música que lembra a infância; o cheiro que remete àquela pessoa do passado; palavras que nos lembram um momento difícil da vida; um lugar que traz lembranças dolorosas; um erro que remete a tantos outros.
Essas situações ocorrem diariamente conosco e é normal que junto a esses acontecimentos venham sentimentos de tristeza, raiva, medo. E é normal também que não queiramos ter esses sentimentos, queremos retomar àqueles momentos de alegria e euforia tão desejados na sociedade atual.
Queremos, a todo custo, pôr em prática a resiliência e seguir em frente, como se nada tivesse acontecido. Porém, recuperar-se de certos acontecimentos pode levar tempo e é aí que a maioria de nós acaba sofrendo em dobro: não temos tempo para sofrer, não temos tempo para a tristeza, há um mundo onde “todos” estão felizes e é onde queremos estar.
De outro lado, a tristeza é um mecanismo importante para realizações, pois é através dela que tentamos ir em busca daquilo que nos deixa alegres, daquilo que faz sentido para nós, tendo em vista que ninguém gosta de se sentir triste.
Não se trata, entretanto, de fazer apologia à tristeza ou de ser contra a felicidade, mas, sim, estimular uma reflexão acerca da busca frenética à felicidade à qual muitas pessoas se entregam (Freitas, 2018).
A dor psíquica é semelhante, em certo ponto, à dor física. Sem sentir dor física a pessoa não consegue “detectar” que há algo de errado acontecendo com ela, sem detectar, a pessoa não conseguirá evitar algo que possa lhe ferir ou até mesmo matá-la.
O mesmo acontece com a mente, se evitar a dor psíquica, não pensando sobre esta, não aprenderá com ela, e terá sido um sofrimento em vão, não conseguirá responder perguntas como “por que eu sofro tanto”, por exemplo. Não saberá se defender ou se posicionar diante de uma situação difícil, não saberá como lidar com as emoções, não saberá compreender o que se passa dentro e fora de você.
Com a terapia online, seja ela breve ou de longo prazo, você encontra meios para lidar com a tristeza. Quando nos tornamos conscientes dos motivos que nos entristecem, podemos encontrar formas de não repetir sofrimentos.
Freitas, Denir Camargo. A tristeza e a inveja na obrigação de ser feliz. IDE São Paulo, 40 [65]. Pag. 97-107. Nov. 2018.